Atlas für Motortouristik der DDR, 1975

Atlas für Motortouristik der DDR, 1975

Caro(a) leitor(a), depois de um atlas mundial americano de 1948 e de um atlas escolar francês de 1886, desta vez trago-lhe um atlas de turismo automóvel de 1975, feito num país que já não existe: a República Democrática Alemã (RDA). Este país, também conhecido como Alemanha de Leste ou Alemanha Oriental, foi fundado em 1949 e deixou de existir em 1990, quando foi integrado na República Federal da Alemanha (RFA).

Duas palavras sobre a RDA

Para o(a) leitor(a) mais jovem, que já não conviveu com a situação insólita da existência de duas Alemanhas, vou tentar dar-lhe uma contextualização rápida. Coloco links abundantes no texto para se quiser aprofundar um pouco mais estes assuntos.

Como sabe, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) terminou com a derrota militar total da Alemanha, esmagada pelos americanos e britânicos (entre outros), a ocidente, e pelos soviéticos, a leste. Como consequência da derrota, a Alemanha perdeu quase um quarto da sua área. Todos os territórios que ficavam a leste dos rios Oder e Neisse reverteram para a Polónia (Silésia, Pomerânia e sul da Prússia Oriental) e para a, então, União Soviética (norte da Prússia Oriental), tendo toda a população germânica sido evacuada dessas áreas. O restante território continuou a ser alemão, mas foi dividido em quatro setores, ocupados militarmente pelas quatro principais potências vencedoras da guerra: a União Soviética (URSS), os Estados Unidos, o Reino Unido e a França. Por seu lado, a capital alemã, Berlim, apesar de se encontrar completamente dentro da área atribuída à União Soviética, foi também dividida em quatro setores.

As desconfianças crescentes entre a URSS e os três aliados ocidentais levaram ao surgimento de dois estados alemães separados: RDA, criada a partir do setor soviético, e a RFA ou Alemanha Ocidental, que resultou da união dos setores americano, britânico e francês.

Construção do Muro de Berlim, 1961
Construção do Muro de Berlim, 1961 (fonte).

Neste contexto, Berlim constituiu um problema sério já que, em pleno coração da RDA comunista, subsistia uma “ilha” capitalista formada pelos setores americano, britânico e francês. Este território – Berlim Ocidental – tornou-se uma verdadeira porta aberta para a fuga de alemães de leste para o Ocidente, atraídos pela liberdade e pela prosperidade económica. Esse fluxo terminou abruptamente em 1961, quando as autoridades do Leste ergueram o tristemente célebre Muro de Berlim (imagem acima), isolando a parte ocidental de Berlim do território circundante.

Descrevendo-se como um "Estado socialista dos trabalhadores e camponeses", a RDA estava dentro da esfera política, económica e militar soviética, em clara oposição ao Ocidente. Era um regime totalitário que negava aos seus cidadãos direitos básicos, tais como a liberdade de expressão ou de associação. A polícia política  a temida Stasi  controlava todos os aspetos da vida da sociedade, através de uma vastíssima rede de informadores. A liberdade de movimentos estava muito condicionada. A economia era planificada centralmente e a quase totalidade das empresas pertencia ao Estado. Apesar da RDA se ter tornado na economia mais bem-sucedida da Europa de Leste, o nível de vida dos alemães de leste foi sempre significativamente inferior ao dos seus concidadãos ocidentais.

Congresso do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), 1986
Congresso do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) que governou a RDA desde a sua fundação (fonte).

No entanto, as convulsões sociais e políticas vividas no Leste Europeu em 1989, que levaram ao colapso do comunismo e ao fim da Guerra Fria, acabaram por conduzir, também, à extinção da RDA, num processo conhecido como Reunificação da Alemanha.

Turismo na RDA

Mas voltemos aos tempos áureos da RDA. Impossibilitados de viajar para o Ocidente e com acesso condicionado mesmo aos países socialistas vizinhos, os alemães de leste acabaram por ficar limitados a fazer turismo no seu próprio país. Os locais de veraneio mais populares eram as ilhas de Rügen, Hiddensee (imagem abaixo) e Usedom, no mar Báltico; a chamada Suíça Saxónica, perto da fronteira com a, então, Checoslováquia; e a Floresta da Turíngia.

As instituições ligadas ao turismo, designadamente as agências de viagens, os operadores e os alojamentos turísticos, eram, por regra, pertença do Estado. O campismo era muito popular, bem como as caminhadas e os percursos pedestres por trilhos nas montanhas e nos parques naturais.

Brochura FDGB Feriendienst da Federação Sindical da Alemã Livre dedicada às estâncias de Rügen e Hiddensee, 1967 (fonte).

A editora

O atlas que hoje aqui trago  Atlas für Motortouristik der Deutschen Demokratischen Republik  foi publicado pela VEB Landkartenverlag, uma das mais importantes editoras de material cartográfico da RDA. Com sede em Berlim (Leste), desenvolveu a sua atividade entre 1954 e 1976.

O nome Landkartenverlag significa literalmente “editora de mapas terrestres”, sendo que o VEB que o antecede a sigla de Volkseigener Betrieb, em português: “empresa de propriedade do povo”. A editora era, pois, uma empresa estatal, tal como a maioria das empresas do país. Foi criada após a nacionalização da Kurt Schaffmann Landkartenverlag, cujo proprietário optou por se fixar em Berlim Ocidental, em março de 1953.

Após a nacionalização de todas as editoras de material geográfico e cartográfico do país e para evitar a concorrência entre elas, foi decidido que cada uma só se poderia dedicar a uma determinada gama de produtos, em regime de monopólio. A VEB Hermann Haack Geographisch-Kartographische Anstalt Gotha ficou com o exclusivo do mercado escolar de cartografia, com a produção de atlas e de literatura cartográfica especializada; a VEB Räthglobenverlag, de Leipzig, ficou com o monopólio de produção de globos terrestres; e, finalmente, a VEB Landkartenverlag ficou com a produção de mapas turísticos, plantas de cidades e, também, de mapas e atlas de estradas, como é o caso da obra em apreço.

Em 1977 – por isso, já depois da publicação do nosso atlas –, foi decidido juntar o departamento de história local e literatura turística da VEB F. A. Brockhaus Verlag Leipzig à VEB Landkartenverlag, criando-se uma nova empresa pública, a que se deu o nome de VEB Tourist Verlag Berlin/Leipzig e que durou até 1994, quando, já após a Reunificação Alemã, foi adquirida pela suíça Kümmerly+Frey, atualmente Hallwag Kümmerly+Frey.

Ele há coisas...

Já agora, deixe-me partilhar consigo uma história curiosa:

Em março de 2016, estive uns dias em Berlim propositadamente para visitar a ITB, a maior feira de turismo do mundo. Fiquei hospedado no Mitte, no centro da cidade, próximo da estação de metro de Spittelmarkt, quase às portas de Kreuzberg. Nesses dias, fui várias vezes a um cafezinho aconchegante nas proximidades, o "Cappuccino Berlin", e cheguei a jantar num restaurante espanhol, mesmo ao lado, chamado "Tapas y más" (que, aqui para nós, nem achei grande coisa...). Ficavam nos números 17 e 18 da Neue Grünstraße. Na altura, notei que o prédio tinha um aspeto de antigo edifício industrial, devidamente restaurado e renovado. Mas não perdi muito tempo a pensar no assunto...

Pois bem, ao redigir este post, verifiquei que Neue Grünstraße 17 era precisamente o endereço da empresa cartográfica VEB Landkartenverlag, responsável pela publicação do nosso atlas. Foi ao ver o local no Google Maps que percebi que, afinal, já lá tinha estado há uns bons anos. Ah, e o prédio é, na verdade, um edifício histórico protegido, datado do final do século XIX. 

É curioso verificar como, às vezes, as coisas se tocam...

Censura, falsificação e distorção de mapas 

Como sabemos, até ao final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha tinha grandes tradições na cartografia e na publicação de atlas de fama mundial, conhecidos pelo seu rigor. E, curiosamente, grande parte dessas editoras estavam sediadas em Leipzig e na Turíngia, nomeadamente em Weimar e em Gota (em alemão, Gotha), territórios que, depois de 1945, fizeram parte do setor soviético e, após 1949, da RDA.

Conforme previsto na lei, todas as editoras da RDA tinham que submeter os seus produtos ao exame prévio da Direção-Geral da Edição e Comércio de Livros do Ministério da Cultura. Para além disso, no caso específico da publicação de mapas, era também necessária a aprovação do Ministério do Interior. Havia algumas regras básicas a que todos os mapas tinham que obedecer, designadamente a omissão completa de todas as instalações militares e unidades industriais, sendo que as linhas férreas só podiam ser representadas de forma muito simplificada.

Em 1952, na sequência de uma reunião dos serviços geodésicos da União Soviética e dos países do Leste Europeu realizada em Sófia, capital da Bulgária, foi decidido que a publicação de mapas topográficos em todos os seus países passaria a ter por base os princípios adotados pela URSS. Assim, 1959 foi estabelecido como o ano limite para que toda a cartografia existente nos países do Leste Europeu fosse alterada para passar a adotar o sistema de referência soviético SK-42 ou elipsoide de Krasovsky, bem como o sistema de coordenadas da URSS.

Uma vez alinhado o sistema de coordenadas cartográficas, em 1964, novas diretivas ordenaram que nenhum objeto topográfico pudesse ser posicionado com precisão nos mapas disponibilizados ao público. Havia que evitar que o Ocidente pudesse tirar partido da cartografia disponível nos países do Leste para planear uma possível invasão. Para garantir a coerência da cartografia a publicar, foi decidido elaborar um mapa base a partir do qual todos os restantes seriam produzidos. Daí em diante, mapas topográficos exatos e rigorosos só estariam disponíveis para uso militar. 

No caso da RDA, foi criado um mapa nacional à escala de 1:200.000 – composto por dez folhas individuais – que passou a funcionar como matriz para as novas edições de produtos cartográficos. A sua elaboração foi rodeada do maior secretismo, procedendo-se à deslocação geométrica da posição de elementos selecionados aleatoriamente, com distorções irregulares de escala e direção, em cerca de três quilómetros. Para além disso, os mapas turísticos daí derivados, também distorcidos, deixariam de incluir qualquer indicação da base geodésica ou coordenadas. Tal ação torná-los-iam inúteis nas mãos de eventuais inimigos, por exemplo, na definição de alvos para um bombardeamento.

No entanto, as omissões, generalizações e erros dos novos mapas que saiam do prelo não passavam despercebidos aos observadores minimamente atentos. Nomeadamente porque se verificavam incongruências constantes entre as distâncias indicadas nos mapas e as registadas pelos conta-quilómetros dos carros e que constavam das placas de sinalização das estradas.

Capa da revista Der Deutsche Straßenverkehr, 1971 (fonte), mostrando um Trabant – o popular automóvel fabricado na RDA – com caravana.

E, se a situação já era complicada nos mapas de estradas, imagine como seriam as plantas de cidades que requeriam um nível de pormenor muito superior e, por isso, não podiam ter por base o mapa oficial à escala 1:200.000.

Bem, para as plantas das cidades recorreu-se a um método corte e cose, de tipo patchwork. As edições existentes das plantas de cada cidade foram cortadas em pedaços de tamanhos diferentes. Usando métodos fotográficos, as áreas centrais da cidade foram aumentadas e as da periferia reduzidas. As zonas de transição foram simplesmente cerzidas em desenho à mão livre.

O investigador Gerald Noack, na sua tese de doutoramento de 2018, Die Entstehung und Herausgabe von touristischen Karten der DDR: Eine historisch-kritische Analyse (em português: "A génese e a publicação de mapas turísticos da RDA: Uma análise histórica crítica") cita múltiplos exemplos de plantas de cidades com arruamentos e edifícios deslocados do seu local real 600 metros na direção este-oeste e 1.300 metros na direção norte-sul; de plantas supostamente à escala 1:10.000 mas onde, na verdade, a escala real variava entre 1:8.500, no centro da cidade, e 1:15.000 na periferia; de áreas industriais representadas como baldios e aquartelamentos militares mostrados como quarteirões residenciais; de casos em que se omitem aeródromos, ramais de caminho de ferro, caminhos pedonais e até recintos desportivos; entre muitas outras anomalias propositadamente fabricadas com o intuito de confundir o "inimigo"...

A partir de 1964, foram retirados do mercado todos os mapas de caminhadas (com escalas de 1:30.000 e 1:50.000) que mostrassem as fronteiras com a República Federal da Alemanha e as áreas consideradas de interesse militar. Por outras palavras, cerca de 12% do território da RDA deixou de ser representado numa cartografia que pudesse ser usada em caminhadas, atividade tão popular no país.

E tudo isto se passava numa época em que aviões de reconhecimento americanos – tais como o U-2 e o SR-71 – percorriam, a alta altitude, os céus do Leste Europeu e da URSS, garantindo que a NATO mantinha os seus registos fotográficos e cartográficos devidamente atualizados. Na verdade, custa a crer que altos responsáveis governamentais do Leste pensassem seriamente que, para planear um eventual ataque, o Ocidente dependesse da informação disponibilizada em mapas de estradas que se podiam comprar num qualquer quiosque...

É que temos que ter em consideração que todos os processos de distorção de mapas eram, em grande parte, realizados manualmente, exigindo um enorme esforço. A falsificação credível de elementos cartográficos foi consumindo tempo e recursos que poderiam ter sido utilizados, com muito mais sensatez, a atualizar e a melhorar os próprios mapas. Na verdade, todas estas operações não passaram de um enorme desperdício de recursos que só conduziu ao descrédito dos mapas na RDA e à sua não utilização em situações que poderiam ter contribuído para o desenvolvimento do país.

Como escreveu a comissária federal Marianne Birthler, no prefácio do livro State Security and Mapping in the GDR: Map Falsification as a Consequence of Excessive Secrecy?, de 2006:

«Com a sua obsessão com o sigilo levada a níveis absurdos, a RDA acabou por se prejudicar a si própria. A distorção das escalas e a omissão de pontos de orientação importantes tiveram consequências terríveis para a economia nacional. A projeção de parques industriais, o planeamento do trânsito rodoviário e os trabalhos geológicos tornaram-se consideravelmente mais difíceis.» [a tradução do inglês é minha]

O atlas

Voltando ao tema, o Atlas für Motortouristik der DDR teve uma primeira edição em 1963 pela VEB Landkartenverlag e várias reedições e reimpressões subsequentes. O nosso exemplar é de 1975.

O prefácio do atlas procura transmitir uma imagem positiva do regime:

«O número de amantes do turismo motorizado aumentou significativamente na última década. Graças à sua beleza cénica e à reputação mundial que conquistou nos últimos anos, a República Democrática Alemã tornou-se um destino turístico popular além das suas fronteiras. Para facilitar o uso deste atlas pelos turistas estrangeiros, as explicações dos símbolos do mapa e as explicações importantes estão em oito idiomas. Com a publicação deste atlas, a editora espera colocar nas mãos dos numerosos amantes do turismo motorizado uma obra que ajude a dar a conhecer a riqueza paisagística e cultural da nossa pátria socialista.» [a tradução do alemão é minha]

À esquerda, mapa das áreas de recreio e dos centros turísticos da RDA, p. 14.

O atlas tem um total de 224 páginas e, como é referido no prefácio, para além do alemão, as informações principais estão também disponíveis em russo, inglês, francês, sueco, polaco, checo e húngaro. Inclui vários mapas gerais da RDA, mostrando as vias de comunicação, os distritos do país, os hotéis mais importantes, as áreas de recreio e os centros turísticos (imagem acima).

No mapa dos hotéis, os estabelecimentos da cadeia Interhotel estão em grande destaque. Tratava-se da cadeia de hotéis de luxo da RDA, fundada em 1965 e que persistiu até 2006. Os hotéis de cinco estrelas estavam reservados apenas a hóspedes do Ocidente, os de quatro estrelas eram principalmente destinados a hóspedes provenientes de países do Comecon – a associação de comércio dos países socialistas –, por exemplo, o "Stadt Berlin" foi construído para os soviéticos. Havia também alguns hotéis de três estrelas em cidades menores, como o "Hotel Elephant" em Weimar, esses sim, disponíveis para alemães de leste.

Só para se ter uma ideia de como as autoridades viam o turismo internacional  se, por um lado, era uma fonte de divisas (dólares, libras, marcos ocidentais), por outro, havia sempre o perigo de as ideias ocidentais poderem "contagiar" os alemães de leste –, há que referir que os hotéis da cadeia Interhotel estavam sob o controlo direto do Ministério da Segurança do Estado, mais conhecido pela abreviatura Stasi, a polícia política da RDA. A Stasi monitorizava os movimentos e as atividades dos turistas internacionais, nomeadamente colocando microfones escondidos e câmaras ocultas nos quartos dos hotéis.

Zona de Salzwedel, próximo da fronteira com a RFA (em alemão: BRD), vendo-se que o atlas é parco em pormenores do outro lado da fronteira (cartas 30 e 31).

A maior parte do atlas é ocupado com 102 mapas de estradas, com indicações turísticas, cobrindo toda a RDA, à escala 1:200.000. Tal como todos os mapas publicados neste período na RDA, também estes tinham as distorções e as omissões exigidas.

Ao, simplesmente, folhear o atlas e observar cada um dos mapas, não consigo perceber que estou perante mapas falseados. Mas consigo perceber que, nos poucos casos em que se mostram territórios fronteiriços, pertencentes já à Alemanha Ocidental, eles são representados de forma extremamente simples (imagem acima).

Isto é particularmente evidente no caso da planta da cidade de Berlim, onde surgem algumas partes da zona ocidental da cidade, completamente em branco, apenas identificada como “Westberlin” (imagem abaixo). Pormenor importante: ao contrário dos mapas de estradas, em nenhuma das plantas das cidades está indicada a sua escala!

Planta da cidade de "Berlim capital da RDA", procurando esconder o território de Berlim Ocidental, representado apenas a branco. De notar, que apesar disso, são assinalados os postos fronteiriços com a tal terra incognita (pp. 128 e 129).

Para além da parte oriental de Berlim, identificada como “Berlin Hauptstadt der DDR” (Berlim capital da RDA), o atlas inclui plantas das cidades de Dresden, Erfurt, Halle, Leipzig, Magdeburg, Potsdam, Rostock, Weimar e Karl-Marx-Stadt. Esta última não é mais do que a cidade de Chemnitz que, a propósito do 70.º aniversário da morte de Karl Marx, em 1953, o governo decidiu rebatizá-la como Cidade de Karl Marx. Em 1990, uns meses antes da reunificação, foi organizado um referendo na cidade, sendo que 76% dos participantes votaram pelo regresso ao nome antigo: Chemnitz.

Após os mapas e as plantas das cidades, o atlas inclui ainda informações úteis, tais como uma tabela de distâncias entre as principais cidades e os postos fronteiriços, uma lista de parques de campismo, as principais curiosidades e os pontos turísticos em cada localidade (21 páginas) e uma lista de agências de viagens. Também aqui, uma curiosidade: das largas dezenas de agências de viagens listadas, todas – sem exceção – pertenciam à "Reisebüro der DDR", a agência de viagens estatal. A Reisebüro tratava, em regime de monopólio, de tudo o que tivesse a ver com viagens, nomeadamente a organização de viagens domésticas para cidadãos da RDA, de viagens de cidadãos da RDA a outros países socialistas e de estrangeiros à RDA. Estes serviços incluíam a reserva de quartos de hotel, o fornecimento de todos os documentos necessários à emissão de vistos, etc.

O atlas termina com o índice das localidades e a sua localização no atlas.

Ostalgie

Alguns anos após a extinção da RDA, foi surgindo na Alemanha reunificada uma certa saudade dos velhos tempos: do modo de vida do antigo regime, dos antigos produtos existentes nos supermercados, dos antigos automóveis, da segurança nas ruas, do respeito pela autoridade, da solidariedade existente entre as pessoas e por aí fora... A este sentimento deram os alemães o nome de Ostalgie, juntando as palavras Ost (Leste) e Nostalgie (nostalgia).

Apesar desse saudosismo estar muito assente numa visão idealizada do passado, a verdade é que levou à criação de vários negócios na Alemanha, ressurgindo produtos alimentares que já haviam desaparecido das prateleiras dos supermercados, comercializando DVDs com programas da antiga televisão pública estatal, disponibilizando uniformes, livros e discos antigos, vendendo automóveis das marcas Wartburg e Trabant, produzindo um extenso rol de memorabília do Leste (t-shirts, bonés, pinos, bandeiras, etc.). Para além disso, a vida na antiga RDA tem sido tema de várias séries e filmes, sendo o mais conhecido o Good Bye, Lenin! de 2003. 

Não tinha pensado antes no assunto, mas é possível que tenha sido um certo contágio desta Ostalgie que me levou a adquirir recentemente online este Atlas für Motortouristik der DDR que hoje lhe trouxe, caríssimo(a) leitor(a). Não quero terminar sem agradecer a sua paciência em me acompanhar nestas divagações em torno de mapas e atlas. Voltarei com mais histórias a propósito de mais atlas. Um abraço e até à próxima!

Ficha técnica

  • Título: Atlas für Motortouristik der Deutschen Demokratischen Republik
  • Data: 1975
  • Edição: 3.ª
  • Idiomas: alemão, russo, inglês, francês, sueco, polaco, checo e húngaro
  • Local: Berlim (Leste)
  • Editor: VEB Landkartenverlag
  • Páginas: 224
  • Dimensões: 255 x 162 x 20 mm

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