Atlante delle regioni d'Italia, 1951

Não sei se o(a) prezado(a) leitor(a) tem conhecimento, mas, para além de Portugal, há um outro país europeu onde o dia 25 de abril também é feriado nacional. É a Itália. O feriado chama-se Festa della Liberazione e remete-nos para 1945, quando, ao mesmo tempo que os exércitos aliados avançavam, a resistência italiana organizou um levantamento popular generalizado nos territórios ainda ocupados, levando à libertação completa do país do jugo da Alemanha nazi e dos resquícios do regime fascista italiano.

O Plano Marshall

No final da Segunda Guerra Mundial, a Itália estava devastada, com meio milhão de mortos e as suas infraestruturas destruídas. Mas isto, é claro, não se limitou à Itália. A ruína dos países europeus beligerantes era generalizada. Tal levou o governo dos Estados Unidos a lançar um ambicioso plano de ajuda económica. Oficialmente designado como Programa de Recuperação Europeia – ERP, na sigla em inglês –, a iniciativa ficou mais conhecida como Plano Marshall, pelo nome do secretário de Estado que o concebeu, George Marshall. Com uma injeção massiva de capital na Europa, os EUA pretendiam reconstruir as regiões consumidas pela guerra, eliminar as barreiras comerciais, modernizar a indústria, aumentar a prosperidade e também, embora tal não fosse admitido publicamente, prevenir o avanço do comunismo no Velho Continente.

Entre 1948 e 1951, foram transferidos 13,3 mil milhões de dólares – o equivalente a cerca de 160 mil milhões de euros, em valores de 2024 – para diversos países europeus, com o Reino Unido, a França, a Alemanha Ocidental e a Itália à cabeça. Mas também puderam beneficiar desta ajuda países que não se tinham envolvido no conflito, nomeadamente a Irlanda, a Suíça e Portugal. A União Soviética, porém, temendo perder a sua independência económica, recusou o apoio americano e pressionou os países da Europa de Leste a fazerem o mesmo.

Mas, no final, o programa acabou por se revelar um êxito. Em 1952, todos os países participantes viram as suas economias ultrapassarem os níveis anteriores ao início da guerra.

Atlas ilustrado

Tudo isto vem a propósito do atlas que hoje lhe trago e que é bastante diferente de todos os anteriores: o Atlante delle regioni d'Italia. Trata-se de um atlas ilustrado, publicado em janeiro de 1951, pela Divisão de Informação da Missão do ERP (ou seja, do Plano Marshall) em Itália. Com esta publicação pretendia-se dar a conhecer ao público italiano o impacto positivo do enorme apoio financeiro e material prestado pelos EUA a Itália, decisivo para a rápida superação das maiores dificuldades causadas pela guerra.

A mensagem que o atlas pretendia passar está bem explícita nestes dois mapas, colocados frente a frente: a Itália em 1945 (à esquerda), completamente devastada pela guerra, e em 1950 (à direita), um país renovado no caminho da prosperidade. Atlante delle regioni d'Italia, 1951, pp. 24 e 25.

O prefácio do atlas é redigido como se fosse uma carta que Jack – um soldado americano imaginário que combateu em Itália durante a Segunda Guerra Mundial – dirige a um jovem italiano que trata como "Caro amigo".

O atlas é composto por um mapa geral de Itália, mostrando as suas diversas regiões com os brasões das respetivas capitais, dezanove mapas ilustrados de cada uma das regiões italianas e dois mapas especiais que retratam a Itália em 1945 – devastada pela Segunda Guerra Mundial – e cinco anos depois, em 1950, mostrando os progressos realizados com a ajuda do financiamento dos EUA (imagem acima).

A região da Ligúria que tem Génova como capital. Atlante delle regioni d'Italia, 1951, p. 12 (clique na imagem para aumentar).

A edição do atlas é de Allulli Crea; Federico de Agostini é o autor dos textos, com notas de Ranieri Allulli; as ilustrações são assinadas por A. Tappa (capa e mapa “L’Italia nel 1950”), R. Milani (contracapa, p. 6 e mapa “L’Italia nel 1945”); por fim, os magníficos mapas das regiões italianas são do ilustrador russo, naturalizado italiano, Vsevolode Nicouline (1890-1968).

A região da Lombardia, com capital em Milão. Atlante delle regioni D'Italia, 1951, p. 14 (clique na imagem para aumentar).

Em bom rigor, estas não são obras originais, mas sim versões reduzidas dos mapas do Imago Italiae, um sumptuoso e elegante atlas de Itália, compilado por Giovanni de Agostini e publicado em 1941.

A região do Lácio, onde fica a capital de Itália, Roma. Atlante delle regioni d'Italia, 1951, p. 33 (clique na imagem para aumentar).

Os magníficos mapas de Nicouline

Originais ou reedições, a verdade é que são estes belíssimos mapas das regiões italianas que constituem o elemento mais valioso deste atlas. Estão repletos de elementos pictóricos que retratam as principais cidades com os seus pontos de referência, as atrações turísticas mais importantes, as instalações industriais, os produtos agrícolas, as características naturais, a vida selvagem, os trajes típicos, bem como os acontecimentos históricos mais marcantes, devidamente datados. Para além disso, cada mapa é dotado de escala, rosa dos ventos e cartela decorativa, e ainda de desenhos de navios, animais, pessoas e símbolos próprios de cada região.

Cada um dos dezanove mapas regionais é acompanhado por uma página de texto que descreve a região, a sua história, cidades principais e especificidades económicas, bem como o valor que recebeu do Plano Marshall.

A região da Sicília, com capital na cidade de Palermo. Atlante delle regioni d'Italia, 1951, p. 45 (clique na imagem para aumentar).

Como já lhe referi, caríssimo(a) leitor(a), este é, na verdade, um atlas diferente, acima de tudo pela preponderância dada à ilustração. E, também, porque nos remete para o período em que a Europa estava dolorosamente a acordar daquele que foi, seguramente, o maior pesadelo da sua longa história – a Segunda Guerra Mundial –; mas também reflete as expectativas de paz, crescimento económico, prosperidade e bem-estar para as populações europeias de que o Plano Marshall foi o primeiro grande empurrão...

Ficha técnica

  • Título: Atlante delle Regioni d'Italia
  • Autores: Federico de Agostini, Vsevolode Nicouline
  • Data: 1951
  • Idioma: italiano
  • Local: Roma
  • Editor: Edizioni Allulli Crea
  • Páginas: 48 pp., 22 mapas
  • Dimensões: 349 x 248 mm

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