DGEMN, Paço dos Duques de Bragança, Guimarães, 1960

 

Paço dos Duques de Bragança. Guimarães: dezembro de 1960. Lisboa: Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Ministério das Obras Públicas. Col. Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, n.º 120. 28 pp., brochado, ilustrado com 95 figuras extratexto entre estampas e desenhos, alguns desdobráveis.

Localizado a apenas duzentos metros do Castelo de Guimarães, o Paço dos Duques de Bragança é um dos mais belos palácios medievais portugueses e, também, dos mais visitados. Em 2023, recebeu 389 mil visitas (fonte).

No entanto, creio que a esmagadora maioria das pessoas que visitam o Paço dos Duques não faz ideia da verdadeira história deste edifício e de que, o que hoje se vê, é quase tudo criação do século XX.

E isto leva-nos ao livro de que hoje vos vou falar: o número 102 do Boletim da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), editado em dezembro de 1960 e inteiramente dedicado ao Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.

Criada em 1929, a DGEMN desenvolveu, durante várias décadas, um vastíssimo programa de obras de restauro e conservação de grande parte dos monumentos e edifícios públicos do país. E, de cada intervenção, a DGEMN publicou um número do seu Boletim. O que temos entre mãos é o que foi dedicado ao Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.

Da construção do Paço ao seu abandono

Tratando-se de um dos melhores exemplos portugueses da tradição construtiva nobre tardomedieval, o palácio foi mandado erguer entre 1420 e 1433 por D. Afonso (1377-1461), filho ilegítimo do rei D. João I, 8.º conde de Barcelos e 1.º duque da Casa de Bragança. A edificação do palácio coincidiu com a sua fixação na então vila de Guimarães, aquando do seu segundo casamento. No entanto, a construção deste paço não foi uniforme, arrastando-se por todo o século XV e parte do seguinte, quando se terá acrescentado um piso sobre a porta principal, concedendo-lhe uma maior monumentalidade. Estas obras terão já sido iniciativa do 2.º duque de Bragança, D. Fernando (1403-1478).

Estruturado a partir de um pátio central quadrangular, funcionalmente, o espaço está organizado em duas grandes áreas: um primeiro piso, onde ficavam as dependências de serviços e de apoio, e um segundo, onde estavam as habitações nobres, ordenadas a partir da capela, com umas áreas para o duque e outras para a duquesa.

Apesar da sua monumentalidade, o paço de Guimarães acabou por ser rapidamente preterido em favor do de Vila Viçosa, para onde o duque de Bragança se transferiu ao longo do século XVI. O velho palácio continuou a ser usado, mas apenas pontualmente, permanecendo encerrado por largos períodos.

Um século mais tarde, o seu abandono foi considerado definitivo, sendo o próprio rei a autorizar a utilização da sua pedra para outras construções. Este processo continuou nos séculos seguintes, com a desmantelamento progressivo do edifício. Em 1807, é decidido instalar um quartel no que sobrava do antigo paço ducal, para o que são realizadas pequenas obras de adaptação ao novo uso.

Ao longo dos tempos, as transformações foram tão radicais que, no início do século XX, a estrutura medieval do edifício encontrava-se irremediavelmente corrompida.

O restauro do Paço a cargo de Rogério de Azevedo

Em 1937, o restauro do paço foi confiado ao arquiteto portuense Rogério de Azevedo (1898-1983). Baseando-se na análise de outros palácios europeus coevos e imbuído do espírito nacionalista característico do Estado Novo, Rogério de Azevedo acabou por empreender uma monumentalização do edifício, através de algumas soluções marcadamente inventivas.

Como forma de reforçar a valorização da Guimarães medieval – berço de nacionalidade – o paço restaurado foi também transformado em residência oficial do presidente do Conselho de Ministros e do presidente da República, este última incumbência ainda mantém na atualidade.

Terminadas as obras em 1959, na decoração do monumental espaço procurou-se reproduzir o que poderia ter sido o quotidiano do paço durante os séculos XVI e XVII. Deste recheio, merecem destaque as porcelanas da Companhia das Índias, as tapeçarias flamengas de Pieter Paul Rubens (1577-1640) e o conjunto de quatro cópias das tapeçarias de Pastrana, cujo desenho original tem sido atribuído a Nuno Gonçalves (ca.1420-ca.1490), autor do políptico de São Vicente de Fora.

O Boletim da DGEMN

Nas suas 27 páginas de texto, o livro inicia-se com uma resenha histórica do paço – “I – D. Afonso, Conde de Barcelos, fundador dos Paços de Guimarães”; “II – Os Duques de Guimarães”; “III – Os Paços ducais de Guimarães” – e termina com “IV – Obras de Restauro”. Seguem-se 8 páginas de plantas e mais seis de alçados e cortes em folhas encartadas. Por fim, 66 páginas de “estampas”, ou seja, de fotografias, que documentam algumas das intervenções efetuadas, com várias sucessões de imagens antes e depois da intervenção. Por último, uma página com os 101 números anteriormente publicados do Boletim.

Folhear este Boletim permite-nos conhecer melhor uma história ainda pouco contada. As plantas, os alçados e as fotografias dão-nos uma ideia da profunda e radical transformação a que este edifício foi sujeito e que, ao visitá-lo, não nos é dado perceber.

Voltando ao início de texto, à importância turística do lugar, creio que muito se ganharia em dedicar uma sala do palácio a contar a história deste edifício. A história antiga e, principalmente, a história do último século. Os turistas sairiam dali mais informados e culturalmente mais enriquecidos se conhecessem como o paço se encontrava há cem anos, as opções que foram tomadas, os pormenores das obras de restauro e de como este monumento histórico foi usado para promover e enaltecer uma ideologia política de cariz totalitário.

Ficha técnica

  • Título: Paço dos Duques de Bragança. Guimarães: dezembro de 1960
  • Coleção: Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, n.º 102
  • Edição: 1960
  • Idioma: português
  • Editor: Ministério das Obras Públicas
  • Local: Lisboa
  • Encadernação: capa mole, brochado
  • Páginas: 68
  • Dimensões: 260 x 200 mm
  • Ilustrações: 14 desdobráveis com cartas topográficas e plantas arquitetónicas e 61 fotogravuras extratexto.

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